A outra
Amei com o corpo, com o coração, com a alma — em silêncio.
Fui a outra por fora, mas por dentro eu fui tudo.
Fui carinho, fui desejo, fui cuidado.
Fui aquela que ele procurava quando precisava respirar,
quando queria ser ele mesmo, sem máscaras.
Nos nossos momentos, ele me fazia sentir única.
O jeito como me olhava, como me prendia na cama, como gemia —
tudo nele era vício.
Fazia amor como quem quer marcar, e marcava.
Me deixava sem ar, sem juízo, sem defesa.
Eu saía dali cheia dele e vazia de mim.
Mas aí vinha a realidade.
Ele voltava pra vida dele.
Pra casa dele.
Pra mulher dele.
E eu… voltava pro meu silêncio.
E mesmo sabendo que ele nunca seria meu,
eu fui dele.
Com o corpo.
Com o coração.
Com tudo que sobrou de mim depois de cada “não posso”.
Ser a outra não é só desejo.
É silêncio.
É ausência.
É fingir que não sente quando tudo em você grita.